“Então escrevo.”

Raquel Helen Silva
3 min readJun 12, 2021

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Escrevo antes mesmo de saber escrever propriamente.

Quando eu era pequena, pegava cadernos e desenhava molas e formas que na minha cabeça eram iguais ao que minha irmã mais velha escrevia em seus cadernos escolares. Igual ao que os adultos anotavam em blocos de aviso.

Afinal. Se eles escreviam, porque eu não poderia escrever também?! :)

Finalmente, meu momento chegou. Fui alfabetizada, aprendi maiúsculas e minúsculas em letra cursiva. Seguia à risca os conselhos das “tias” que me diziam para fazer “letra bonita.” Preenchi os pontilhados até que internalizei todas as voltinhas e aprendi a construir letras sem precisar mais de moldes.

Algum tempo depois, na escola primária, participei das olimpíadas. Eu não era uma atleta exímia, não era forte, não era alta. Mas eu tinha algo que podia ajudar a pontuação geral da minha turminha no campeonato.

Eu sabia escrever. Eu gostava de escrever, e escrevia bem.

(Engraçado ter uma modalidade de “produção de texto” em uma competição esportiva, mas entendo que os professores e coordenadores queriam incentivar o desenvolvimento intelectual dos pequenos também. Não os julgo — risos) :D

No dia da “prova,” me assentei na sala de aula. Li as instruções. Não me lembro do tema da redação. Não me lembro dos outros alunos que estavam ali. Mas me lembro claramente da sensação de ser transportada para outro lugar, de estar completamente imersa no que estava fazendo. Aquele era um momento de pressão psicológica: minha escrita seria avaliada e o resultado do que eu produzisse em um breve período de tempo afetava diretamente a habilidade de 34 outras crianças serem campeãs da sua série.

Aquilo era importante.

Apesar de tudo isso, me senti extremamente realizada escrevendo naquelas condições.

Não sabia na época, que eu havia alcançado o chamado estado de flow (ou fluxo). O que Shonda Rhimes, criadora das séries Grey’s Anatomy e Scandal e produtora executiva de How to Get Away With Murder chama esse momento de zum.

Para Shonda, o zum “é um “espaço criativo dentro de sua mente.” Ela o descreve como “quando minha criatividade entra em ação e aquele ponto especial no meu cérebro começa a funcionar e passo de esforço a exultação e, de repente, posso escrever para todo o sempre e sempre e sempr…”

Talvez meus professores não soubessem, mas eu sabia o quanto foi importante para mim poder participar daquela competição.

Poder contribuir com o que eu fazia de melhor: escrever.

Já era previsível que a maioria dos meus colegas não gostassem de escrever.

E que isso me fazia me sentir… diferente.

Mas aquela oportunidade me incluiu e reconheceu minhas habilidades.

Nas palavras de Shonda Rhimes:

“Você não está sozinho.

Ninguém deveria estar sozinho.

Então.

Escrevo.”

Muitos anos se passaram desde as olimpíadas da escola primária. E continuei escrevendo.

Em 2009 recebi a nota máxima na redação do vestibular de Relações Internacionais da PUC Minas.

Em 2011 fui colunista convidada do Washington Post, compartilhando sobre a experiência como uma das participantes mais jovens do Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça.

Em 2012 escrevi o texto que foi a base para a minha palestra no TEDxBeloHorizonte.

E hoje, em 2021, depois de muitas idas e vindas.

Escrevo.

Sempre em busca de aprender. De me expressar. De (re)encontrar meu zum.

Dedico este texto como agradecimento a Viviane Elias.

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Recomendação de livro: O ano em que disse sim, de Shonda Rhimes.

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Raquel Helen Silva
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Written by Raquel Helen Silva

Made in Brazil. Global citizen. People-centric. DEI. Social impact. Tea and butterfly lover. | Mineira do mundo. Apaixonada por pessoas, chás e borboletas.

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