Bença, tia.
Perdi a conta de quantas vezes disse essas palavras pra minha tia-avó querida.
Mas não me esqueço da última vez que as disse. Domingo, à tarde. Apenas dois dias atrás.
A notícia da piora dessa tia amada nos levou à UTI. Ali estava ela, acamada. Os cabos e tubos que a tornavam quase irreconhecível. Apenas uma sombra da tia que eu amei desde que me entendo por gente.
Uma mulher que me ensinou tanto, mesmo sem saber.
Sobre generosidade, caráter, amor ao próximo.
Não me esqueço das roseiras que cresciam na frente da sua casa, rumo aos céus.
Dos azulejos da cozinha onde ela fazia franguinho frito pra mim.
O freezer onde sempre tinha fruta congelada pronta para fazer suco.
A lembrança do meu aniversário de 15 anos, que ela ainda guardava no armário da sala, mesmo depois de tanto tempo.
Que alegria foi conhecer e conviver com ela.
Uma mulher que trabalhou, conquistou seus objetivos, e continuou doce apesar das dificuldades.
Ontem no meio da tarde, recebi a notícia de que minha tia-avó tinha nos deixado.
As lágrimas imediatamente embaçaram meus olhos.
Chorei.
Um aperto no peito e uma saudade do que ainda queria viver com ela. Os planos e sonhos que compartilharíamos. A expectativa de vê-la chegando no portão para nos receber. Sempre de braços e sorriso literalmente abertos.
Não me esqueço da carta que ela me enviou quando estava nos Estados Unidos, e depois me perguntou se tinha chegado, porque nunca tinha enviado nada para tão longe.
Ela sempre se alegrou com as minhas conquistas. E apesar da saudade, ela entendia o quanto aqueles processos eram importantes para mim.
Ela me permitia voar e me lembrava que teria um ninho pra voltar. “Daqui a pouco você volta… o tempo passa rápido, e logo logo estaremos todos juntos de novo. Vai mesmo, tem que ir. Nós estamos te esperando.”
Ai que saudade que aquele abraço deixou.
Sigo ainda sem acreditar, mas grata pela tia-avó que tive.
Que Deus a tenha em bom lugar.
Bença, tia.
